O estudo TRuST

O estudo TRuST

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O Tafenoquine Roll- oUt Study (TRUST), ou Estudo de Implementação da Tafenoquina, foi o primeiro estudo observacional em vida real a avaliar a viabilidade de fornecer tratamento adequado de prevenção de recaída com tafenoquina (TQ) ou primaquina com base nos resultados do teste de G6PD. O estudo, copatrocinado pelo Ministério da Saúde do Brasil (MS) e pela MMV, foi realizado nos municípios de Manaus, Amazonas (AM), e Porto Velho, Rondônia (RO) e começou em setembro de 2021. O TRuST foi liderado por dois pesquisadores de malária e seus respectivos institutos no Brasil: Dr. Marcus Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), e Dr. Dhelio Pereira, do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (CEPEM).

O estudo avaliou a viabilidade da introdução de um novo protocolo de tratamento de P. vivax com teste de G6PD no local de atendimento e tafenoquina em dose única. As novas ferramentas foram fornecidas aos serviços de saúde junto com o medicamento antimalárico regular para o estágio sanguíneo, a cloroquina (CQ). Após confirmar o diagnóstico de malária por P. vivax e medir os níveis de enzima G6PD do paciente, o profissional de saúde forneceu o tratamento adequado para a prevenção de recaídas (TQ ou PQ) com base no algoritmo de tratamento atualizado.

O profissional de saúde registrou informações sobre os resultados do teste de malária e o diagnóstico de G6PD, bem como o tratamento fornecido no Sistema de Informações de Vigilância Epidemiológica (SIVEP) - Malária, seguindo a rotina regular do serviço de saúde. Somente os pacientes que forneceram consentimento informado para o compartilhamento de dados foram incluídos no banco de dados do estudo, após serem anonimizados.

O estudo foi implementado em duas fases pelo Ministério da Saúde e pelas secretarias estaduais e municipais de saúde de Manaus e Porto Velho. A primeira fase começou em setembro de 2021 e foi realizada em nove unidades de saúde de alta e média complexidade. Em fevereiro de 2022, o estudo foi ampliado para 40 unidades de baixa complexidade nos mesmos municípios, seguindo a recomendação do Comitê Independente de Supervisão do Estudo com base na revisão da primeira análise interina. O último paciente foi recrutado para o estudo em 31 de agosto de 2022. Um estudo qualitativo conhecido como "Quali-TRuST" foi conduzido por pesquisadores da FMT-HVD juntamente com o TRuST para entender as perspectivas dos profissionais de saúde e dos pacientes sobre a introdução e o uso das novas ferramentas.

Saiba mais sobre as fases do estudo TRuST neste infográfico.

Em dezembro de 2022, os resultados da primeira e da segunda análise interina do TRuST foram incluídos em um dossiê abrangente, juntamente com os resultados do QualiTRuST, uma análise de custo-efetividade e de impacto orçamentário e outras evidências científicas relacionadas à tafenoquina e ao G6PD, que foi submetido à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) solicitando a incorporação da TQ em dose única e do teste STANDARD™ G6PD no SUS. Em junho de 2023, a CONITEC decidiu a favor da incorporação, tornando o Brasil o primeiro país a incorporar a TQ em dose única para o tratamento da malária por P. vivax.

Principais resultados: Novas ferramentas podem ser adequadamente incorporadas aos serviços de saúde

O objetivo principal do TRuST foi investigar se os pacientes com P. vivax com idade ≥16 anos foram tratados com tafenoquina de acordo com o nível adequado de atividade da enzima G6PD. Os artigos científicos ainda estão passando por um processo de revisão pelas revistas científicas, mas algumas das principais conclusões estão destacadas abaixo.

Principais conclusões do TRuST e do Quali-TRuST

  • O nível de conformidade com o novo protocolo de tratamento com tafenoquina com base em níveis adequados de atividade de G6PD foi superior a 99% e foi consistente entre as unidades de saúde de alta/média e baixa complexidade.
  • Os profissionais de saúde puderam testar rotineiramente os pacientes para a atividade da G6PD antes de fornecer a cura radical com tafenoquina ou primaquina.
  • O uso rotineiro do teste para medir a atividade de G6PD antes de fornecer a cura radical foi possível em diferentes níveis do sistema de saúde brasileiro.
  • Os profissionais de saúde e os pacientes relataram o uso de uma dose única para a cura radical como positivo, contribuindo para melhorar o tratamento da malária.
  • Os pacientes com infecções anteriores por P. vivax destacaram o benefício da redução de comprimidos e do tratamento mais curto.
  • Como acontece com qualquer nova intervenção, houve uma curva de aprendizagem acentuada dos profissionais de saúde para incorporar o teste de G6PD na rotina das unidades de saúde. Os desafios no início com o uso do teste de G6PD foram superados com treinamento e prática.
  • O sistema de vigilância sanitária do Brasil é robusto e permite a vinculação de dados de vigilância, hospitalização e mortalidade para monitorar eventos adversos relacionados aos antimaláricos.
  • Esses resultados sugerem que o treinamento fornecido aos profissionais de saúde sobre o uso da tafenoquina foi adequado. O treinamento foi ministrado pelas secretarias estadual e municipal de saúde e pela equipe do estudo, com foco em como usar o teste de G6PD e fornecer o tratamento adequado com base nas diretrizes do Ministério da Saúde.

Perguntas frequentes (FAQ)

  • Quem são os parceiros envolvidos no estudo TRuST?
  • O TRuST foi liderado pela Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), pelo Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (CEPEM), pelas Secretarias Estaduais de Saúde do Amazonas e de Rondônia e pelas Secretarias Municipais de Saúde de Manaus e de Porto Velho. O estudo foi co-patrocinado pelo Ministério da Saúde (MoH) e pela Medicines for Malaria Venture (MMV).
  • Quanto tempo durou o estudo?
  • O estudo TRuST teve duas fases e levou aproximadamente 12 meses para ser concluído.
  • Quantas pessoas participaram do estudo?
  • Mais de 6.000 pacientes consentiram em fornecer seus dados anônimos para serem analisados pela equipe do estudo.
  • Por que o estudo foi implementado apenas em Manaus e Porto Velho?
  • No Brasil, 99% dos casos de malária por P. vivax estão concentrados na região amazônica, onde estão localizados os municípios de Manaus e Porto Velho. Ambas as cidades também contam com uma ampla e diversificada rede de atenção à saúde voltada para o controle da malária.
  • O estudo recebeu aprovação ética?
  • Sim, o TRuST recebeu aprovação ética do CONEP, o Comitê Nacional de Ética no Brasil, sob o número CAAE 16867319.6.0000.0008.
  • A tafenoquina e o teste de G6PD foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)?
  • Sim. A ANVISA aprovou o teste de G6PD em outubro de 2018. A tafenoquina foi aprovada, com o nome comercial Kozenis®, em outubro de 2019, com base nos estudos clínicos de Fase 3, também realizados em Manaus e Porto Velho, no Brasil. Ambos os produtos foram registrados pela ANVISA sob os números 1010703430011 (TQ); 80954880092 e 80954880087 (G6PD/SD Biosensor Test). Em agosto de 2023, a ANVISA também registrou a tafenoquina para crianças a partir de 2 anos de idade pesando mais de 10 kg (número de registro 101070362).
  • O novo tratamento está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS)?
  • Em 6 de junho de 2023, o Brasil tornou-se o primeiro país endêmico de malária a adotar a tafenoquina em dose única e o teste STANDARD™ G6PD. A Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias em Saúde do SUS (CONITEC) emitiu a decisão final após uma recomendação preliminar a favor da adoção em março de 2023 e uma consulta pública subsequente. Após a decisão de adotar o novo tratamento, o Ministério da Saúde do Brasil está conduzindo discussões técnicas para planejar e preparar o sistema de saúde para a implementação em todo o país a partir do início de 2024.
  • A experiência do paciente e do profissional de saúde com o novo tratamento foi considerada na avaliação da viabilidade do novo algoritmo de tratamento?

Em conjunto com o TRuST, foi realizado um estudo qualitativo chamado QualiTRuST. Esse estudo foi realizado para avaliar a aceitabilidade e a experiência dos profissionais de saúde e pacientes com a implementação do teste quantitativo de G6PD e a cura radical de dose única com TQ. O QualiTRuST avaliou os níveis de compreensão e conhecimento sobre a deficiência de G6PD, o algoritmo de tratamento e o tratamento de cura radical (PQ e TQ) entre profissionais de saúde e pacientes com P. vivax, além de caracterizar a aceitabilidade desta nova intervenção entre profissionais de saúde e pacientes.